"A mente traduz a experiência de acordo com o conhecido". Krishnamurti
Se decidimos mudar, é porque estamos prontos. Pois por algum ou muito tempo, sonhamos acordados com esse momento, elaborando internamente essa mudança. No entanto, quando chega o momento de darmos um passo à frente e tomarmos a atitude definitiva, paralisamos de medo. Então o coração fica apertado, a garganta tensa e a cabeça confusa. Contraímos os músculos, prendemos a respiração, e construímos uma atitude de resposta esperando o perigo ou a ameaça.
Se prestarmos atenção em nosso corpo nesse processo, poderemos aprender muito sobre nós. Se observarmos com atenção, perceberemos o medo em cada parte dele. Mas o que nos assusta afinal? Se desejamos a mudança, se sabemos que o caminho escolhido no passado não faz mais sentido, do que temos medo?
Acredito que temos medo de ser, de nos entregar à vida, temos medo da morte, mas também do viver. Um medo que se opõe à própria vida, um medo antigo, guardado na memória do corpo e da mente inconsciente, que na verdade, é a mesma coisa.
Santo Agostinho chamava a memória de "presente do passado", ou seja, sentimos aquilo que sabemos existir pela experiência. Se sentimos medo, é por que conhecemos o sofrimento, e quem de nós deseja sofrer? O futuro nos assusta e nos atormenta, mas junto dele está o passado graças à memória que temos da dor.
Se pudéssemos esquecer, certamente não sentiríamos medo. Os neuróticos sofrem de excesso de lembranças, dizia Freud. Esse pensamento me faz refletir e pensar que nossa sanidade e felicidade, resida em uma espécie de ausência de medo, portanto, seria melhor o esquecimento.
Nietzsche, filósofo alemão do século XIX, dizia: "É possível viver quase sem lembrança, e viver feliz, como demonstra o animal, mas é impossível viver sem esquecer".
Mas o nosso objetivo não é a vida e a felicidade? Não é por isso que lutamos? Se pararmos para uma reflexão ainda mais profunda, entenderemos que é só através da memória que podemos crescer e evoluir. O que seria de nossa alma se não fosse a memória? Somente através dela poderemos adquirir consciência.
Portanto, meus queridos, não temos saída a não ser enfrentar nossos medos, por mais profundos e assustadores que eles sejam. Por que somente através desse confronto poderemos expandir nossa consciência, que não existiria sem a memória. A memória é a alma de nosso pensamento.
De nada nos adianta também fugir de nossa necessidade. A necessidade nos cobra, grita sua expressão, e se não damos vazão aos nossos sentimentos, ficamos doentes. Se não adoecemos no corpo, adoecemos na alma, ou nos dois. E adoecer é um estado que se distancia da felicidade.
Ah, a felicidade! Todos nós a queremos, mas como é difícil construí-la e principalmente mantê-la! Todos nós, provincianos burgueses, aprendemos a acreditar que a felicidade está na permanência das coisas. No entanto, a vida e a natureza nos defronta diariamente com a transitoriedade.
Esquecemos que a impermanência é a essência de nosso Universo, ela está em toda existência. Não aceitamos essa lei, e arrogantemente insistimos em fazer com que as coisas permaneçam como são. Acreditando na eternidade das coisas, negando a lei da transitoriedade, nosso desejos e apegos nos induzem a repetir os mesmos erros destrutivos.
Precisamos nos soltar de nosso controle, de nossos apegos à nossa auto imagem, ou então continuaremos a nos envolver a situações difíceis e conflitantes. E enquanto estivermos apegados na tentativa de controlar a própria vida, não conseguiremos senti-la em sua plenitude de amor, de paz e felicidade.
(Eunice Ferrari)
"Viva a vida sem medo, o medo bloqueia o nosso crescimento espiritual. Mas não se prendam a esta vida transitória. Preparem-se para aquela que é eterna, quando tudo será duradouro, e nada precisará ser renovado dia a dia." (Chico Xavier)
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