Na
manhã de 19 de janeiro de 1982, Elis Regina foi encontrada caída no chão de seu
apartamento no Jardim Paulista, bairro nobre de São Paulo, pelo então namorado,
o advogado Samuel MacDowell. Levada ao vizinho Hospital das Clínicas, já chegou
sem vida. A causa da morte: uma mistura letal de cocaína e álcool. Ela tinha
apenas 36 anos.
Na
época, os familiares de Elis contestaram o laudo médico, na tentativa de
proteger sua imagem. "Ela foi vítima de uma overdose. Não há mistério. Não
há polêmica", afirma Regina Echeverria, amiga da cantora e autora da
biografia "Furacão Elis". "Eu sei que a família não gosta de
discutir esse assunto. Mas não podemos mentir sobre a morte dela".
Na
noite anterior à sua morte, Elis e MacDowell haviam recebido amigos no
apartamento da rua Melo Alves. Os convidados saíram por volta das 21h e
MacDowell, algumas horas depois - Elis queria ficar sozinha para ouvir músicas
do disco que se preparava para gravar. Mais tarde, ela e o namorado ainda conversaram
rapidamente por telefone.
Na
manhã seguinte, eles voltaram a falar por telefone. Ao final da conversa,
MacDowell preocupou-se porque Elis começou a dizer palavras ininteligíveis.
Pegou um táxi para o apartamento e só conseguiu encontrar Elis depois de
arrombar duas portas - ela estava trancada no quarto. Após tentativas
frustradas de reanimar a cantora e chamar uma ambulância, decidiu levá-la ao
hospital de táxi.
O
resultado da autópsia, apontando a mistura de cocaína e álcool como causa da
morte, veio dois dias depois. "Foi um choque porque a Elis era
preconceituosa com drogas. Ela usou por um período curto e intenso", conta
Regina Echeverria. Seu corpo foi velado no Teatro Bandeirantes, em São Paulo,
mesmo local em que havia apresentado seu show mais marcante, "Falso
Brilhante", entre 1975 e 1977.
Terminava
assim a vida daquela que, havia quase duas décadas, era considerada a maior
cantora do Brasil.
Nascida
em 17 de março de 1945 em Porto Alegre, Elis Regina Carvalho Costa começou a
cantar aos 11 anos, em programas de rádio. Entre 1961 e 1963, lançou quatro
discos, mas só começou a fazer sucesso quando deixou o Rio Grande do Sul, em
1964.
No
ano seguinte, veio o estouro nacional: interpretando "Arrastão", de
Edu Lobo e Vinicius de Moraes, Elis venceu o primeiro Festival de Música
Popular Brasileira. Foi convidada por Solano Ribeiro, diretor do evento. Ele a
viu pela primeira vez no lendário Beco das Garrafas, principal palco da bossa
nova no Rio de Janeiro. "Foi uma coisa impactante", lembra.
Solano
desmente a lenda de que Elis era uma completa desconhecida antes daquele
festival. "Ela já fazia muitos shows em São Paulo e no Rio e também fazia
bastante sucesso com [a música] 'Menino das Laranjas'. Foi absolutamente
natural que ela cantasse no festival", explica. "Como ela já vinha
cantando músicas do Edu Lobo, achei que ela se sairia muito bem com
'Arrastão'."
Saiu-se
tão bem que ganhou o primeiro lugar. Ganhou também o maldoso apelido de
"eliscóptero", por cantar balançando os braços. Até o final dos anos
1960, participou de mais cinco festivais, quatro como intérprete e uma como
integrante do júri. Em 1967, ganhou o prêmio de melhor intérprete, com "O
Cantador". Em 1968, venceu a primeira Bienal do Samba, com
"Lapinha".
Nessa
mesma época, liderou uma passeata contra a presença de guitarras na música
brasileira. Pouco depois, gravou uma série de discos cheios de guitarras. No
começo dos anos 1970, cantou o hino nacional nas comemorações dos 160 anos da
Independência do Brasil capitaneadas pela ditadura militar. Nos anos seguintes,
deu voz a músicas que criticavam essa mesma ditadura.
Gênio Forte
Contraditória?
Elis era assim. Sua personalidade misturava coragem e insegurança em doses
iguais. "Ela se arriscava sem medo", recorda Guilherme Arantes. Ele e
Elis tiveram um curto romance no início dos anos 1980, após a cantora terminar
seu casamento com o músico Cesar Camargo Mariano. "Foi uma época
conturbada. Ela tinha acabado de se separar, eu também. Não era o
momento", diz.
Sua
coragem se manifestava, por exemplo, nas apostas em compositores até então
desconhecidos (Milton Nascimento e João Bosco são dois exemplos) e na decisão
de ter total controle sobre sua carreira. "É preciso contextualizar. Na
época, ainda havia muito preconceito contra as mulheres. Os executivos das
gravadoras eram extremamente machistas. E ela combatia tudo isso", explica
Guilherme.
Solano
Ribeiro define assim a personalidade de Elis: "Ela não se
conformava". Daí vêm as incontáveis histórias sobre o gênio forte da
cantora, que lhe valeram o apelido de "Pimentinha". "Você
realmente não podia pisar no calo dela", reconhece Regina Echeverria. Para
Renato Teixeira, de quem Elis gravou "Romaria", a fama é injusta.
"Ela só brigava quando tinha um bom motivo", diz.
Insegurança
Muito
da imagem de briguenta vinha de pura insegurança. Elis era competitiva
("Ela não admitia estar em segundo lugar", define Solano Ribeiro) e,
por isso, vivia em constante receio de não ser a melhor. Daí vinha a
possessividade com compositores e músicos - o baterista Dudu Portes, por
exemplo, lembra que Elis proibia que sua banda tocasse com outros artistas, em
especial cantoras.
Talvez a melhor forma de
definir Elis Regina seja através de frases da própria Elis Regina. "Morro
de medo. Faço todos os espetáculos me borrando de medo. Todos os dias",
disse certa vez. Em outra oportunidade, afirmou: "Se ser geniosa, exigente
e não gostar de ser passada para trás é ser mau caráter, então eu sou". Ou
então: "Sempre vou viver como kamikaze. Isso me faz ficar de pé."
Elis com os filhos Maria Rita e Pedro Camargo Mariano
Elis seu filho João Marcello e o marido Ronaldo Bôscoli
Elis Regina
é mãe de João Marcello Bôscoli (n. 1970), filho do seu primeiro casamento com o
músico Ronaldo
Bôscoli (1928-1994), e de Pedro Camargo Mariano (n. 1975) e Maria
Rita (n. 1977), filhos de seu segundo marido, o pianista César Camargo Mariano (1943).
O casamento com Ronaldo Bôscoli em 1967, com a
histórico vestido de Dener
Em Paris com o cantor e galã da época Sacha Distel (morto em 2002): admiração mútua e
destaque nas TV's da Europa, divulgando a canção brasileira, junto a Eliana
Pittman, Rosemary, Penha Maria e outras.
Não tenho tempo de desfraldar outra bandeira que não seja
a da compreensão, do encontro e do entendimento entre as pessoas.
E quase que eu me esqueci que o tempo não para nem vai
esperar
Decepção não mata ensinar a viver
Vivendo e aprendendo a jogar nem sempre ganhado nem sempre perdendo mas aprendendo a jogar
Vivendo e aprendendo a jogar nem sempre ganhado nem sempre perdendo mas aprendendo a jogar
O amor não me compete, eu quero é destilar as emoções...
(ELIS REGINA)
Adorei e compartilhei no meu facebook. Parabéns pelo trabalho
ResponderExcluirAdoro.
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