Aquela mulher
fascinante de pequena estatura, algo em torno de 1.50cm, com seu sorriso largo
e olhar expressivo, rebolando com bananas equilibradas na cabeça e sapatos de
saltos plataforma, aos poucos deixou de ser uma cantora de renome internacional
para se tornar um mito incomparável.
Maria do
Carmo Miranda da Cunha GO IH (Marco de Canaveses, 9 de fevereiro de 1909 — Los Angeles, 5 de agosto de 1955), mais conhecida como Carmen
Miranda, foi uma cantora e atriz luso-brasileira.
Sua
carreira artística transcorreu no Brasil e Estados Unidos entre as décadas de 1930 e 1950. Trabalhou
no rádio, no teatro de revista, no cinema e na televisão. Chegou a receber o
maior salário até então pago a uma mulher nos Estados Unidos. Seu estilo
eclético faz com que seja considerada precursora do tropicalismo,movimento cultural brasileiro surgido no final da década de 1960.
Carmen
Miranda foi batizada com o nome de Maria do Carmo Miranda da Cunha na igreja da
freguesia de Várzea da Ovelha e Aliviada, concelho de
Marco de Canaveses. Era a segunda
filha do barbeiro José Maria Pinto Cunha (1887-1938) e de Maria Emília
Miranda (1886-1971). Ganhou o apelido de Carmen no Brasil, graças ao gosto que seu pai
tinha por óperas.
Pouco
depois de seu nascimento, seu pai, José Maria, emigrou para o Brasil,] onde se instalou no Rio de Janeiro. Em 1910, sua mãe, Maria
Emília seguiu o marido, acompanhada da filha mais velha, Olinda, e de Carmen,
que tinha menos de um ano de idade. Carmen
nunca voltou à sua terra natal, o que não impediu que a câmara municipal de Marco de Canaveses desse seu nome ao museu municipal.
No Rio de Janeiro, seu pai abriu um salão de
barbeiro na rua da Misericórdia, número 70, em sociedade com um conterrâneo. A
família estabeleceu-se no sobrado acima do salão. Mais tarde mudaram-se para a
rua Joaquim Silva, número 53, na Lapa.
No
Brasil, nasceram os outros quatro filhos do casal: Amaro (1911), Cecília (1913-2011), Aurora (1915 - 2005) e Oscar (1916).
Carmen
estudou na escola de freiras Santa Teresa, na rua da Lapa, número 24. Teve o
seu primeiro emprego aos 14 anos numa loja de gravatas,
e depois numa chapelaria.
Contam que foi despedida por passar o tempo cantando, mas o seu biógrafo Ruy Castro diz que ela cantava por influência de
sua irmã mais velha, Olinda, e que assim atraía clientes.
Nesta
época, a sua família deixou a Lapa e passou a residir num sobrado na Travessa
do Comércio, número 13. Em 1925, Olinda, acometida de tuberculose,
voltou a Portugal para tratamento, onde permaneceu até sua morte em 1931. Para complementar a
renda familiar, sua mãe passou a administrar uma pensão doméstica que servia refeições para
empregados de comércio.
Em 1926, Carmen, que tentava
ser artista, apareceu incógnita em uma fotografia na sessão de cinema do jornalista Pedro Lima da revista Selecta.
Em 1929, foi apresentada ao
compositor Josué de Barros,
que encantado com seu talento passou a promovê-la em editoras e teatros. No mesmo
ano, gravou na editora alemã Brunswick, os primeiros discos com o samba Não Vá Sim'bora e o choro Se O Samba é Moda. Pela
gravadora Victor, gravou Triste
Jandaia e Dona Balbina ou "Buenas Tardes
muchachos".
O
grande sucesso veio a partir de 1930, quando gravou a
marcha "Pra Você Gostar de Mim" ("Taí") de Joubert de Carvalho. Antes do fim do ano, já
era apontada pelo jornal O
País como "a maior
cantora brasileira".
Em 1933 ajudou a lançar a irmã Aurora na carreira artística. No mesmo ano,
assinou um contrato de dois anos com a rádio Mayrink Veiga para ganhar dois contos de réis por
mês, o que hoje equivale a cerca de R$ 1000,00. Foi a primeira cantora de rádio
a merecer contrato, quando a praxe era o cachê por participação. Logo recebeu o
apelido de "Cantora do It". Em 30 de outubro realizou sua primeira turnê
internacional, apresentando-se em Buenos Aires.
Voltou à Argentina no ano seguinte para uma temporada de
um mês na Rádio Belgrano.
Em
dezembro de 1936, Carmen deixou a Mayrink Veiga e
assinou com a Tupi, ganhando cinco contos de réis.
Em 20 de janeiro de 1936, estreou o filme Alô, Alô Carnaval com a famosa cena em que ela e Aurora Miranda cantam "Cantoras do Rádio".
No mesmo ano, as duas irmãs passaram a integrar o elenco do Cassino da Urca de propriedade de Joaquim Rolla.
A partir de então as duas irmãs se dividiram entre o palco do cassino e
excursões frequentes pelo Brasil e Argentina.
Depois
de uma apresentação para o astro de Hollywood Tyrone Power em 1938, aventou-se a
possibilidade de uma carreira nos Estados Unidos.
Carmen recebia o fabuloso salário de 30 contos de réis mensais no Cassino da
Urca e não se interessou pela ideia.
Em 1939, o empresário
estadunidense Lee Shubert e a atriz Sonja Henie assistiram ao espetáculo de Carmen no
Cassino da Urca. Depois de um espetáculo no transatlântico Normandie,
Carmen assinou contrato com o empresário. A execução do contrato não foi
imediata, pois a cantora fazia questão de levar o grupo musical Bando da Lua para a acompanhar, mas o empresário
estava apenas interessado em Carmen. Depois de voltar para os Estados Unidos,
Shubert aceitou a vinda do Bando da Lua. Carmen partiu no navio Uruguai em 4 de maio de 1939, às vésperas da Segunda Guerra Mundial.
Em 29 de maio de 1939 Carmen estreou no espetáculo musical
"Streets of Paris", em Boston, com êxito
estrondoso de público e crítica. As suas participações teatrais tornaram-se
cada vez mais famosas. Em 5 de março de 1940, fez uma apresentação
perante o presidente Franklin D. Roosevelt durante um banquete na Casa Branca.
Em 10 de julho de 1940 retornou ao Brasil, onde foi
acolhida com enorme ovação pelo povo carioca. No entanto, em uma apresentação
no Cassino da Urca com a presença de políticos importantes do Estado Novo, foi apupada pelos que a
consideravam "americanizada". Entre os seus críticos havia muitos que
eram simpatizantes de correntes políticas contrárias aos Estados Unidos.
Dois
meses depois, no mesmo palco, Carmen foi aplaudida entusiasticamente por uma platéia
comum. No mesmo mês gravou seus últimos discos no Brasil, onde respondeu com
humor às acusações de ter esquecido o Brasil e ter-se
"americanizado". Em 3 de outubro,
voltou aos Estados Unidos e gravou a marca de seus sapatos e mãos na Calçada da
Fama do Teatro Chinês de Los Angeles.
Entre 1942 e 1953 atuou em 13 filmes em Hollywood e nos
mais importantes programas de rádio, televisão, casas noturnas, cassinos e
teatros norte-americanos. A Política de Boa Vizinhança, implementada
pelos Estados Unidos para buscar aliados na Segunda Guerra Mundial, incentivou a imigração
de artistas latino-americanos. Apesar de ter chegado nos Estados Unidos antes
da criação da Política de Boa Vizinhança, Carmen Miranda sempre foi
identificada como a artista de maior sucesso do projeto.
Em 1946, Carmen era a artista
mais bem paga de Hollywood e a mulher que mais pagava imposto de
renda nos EUA. Em 17 de março de 1947casou-se com o
americano David Sebastian, nascido em Detroit a 23 de novembro de 1908. Antes, Carmen
namorou vários astros de Hollywood e também o músico brasileiro Aloysio de Oliveira, integrante do Bando da Lua.
Antes
de partir para os Estados Unidos e antes de conhecer o marido, Carmen namorou o
jovem Mário Cunha e o bon
vivant Carlos da Rocha Faria,
filho de uma tradicional família do Rio de Janeiro. Já nos EUA, Carmen manteve
caso com os atores John Wayne e Dana Andrews.
O
casamento é apontado por todos os biógrafos e estudiosos de Carmen Miranda como
o começo de sua decadência moral e física. Seu marido, David, antes um simples
empregado de produtora de cinema, tornou-se "empresário" de Carmen
Miranda e conduzia mal seus negócios e contratos. Também era alcoólatra e pode
ter estimulado Carmen Miranda a consumir bebidas alcoólicas, das quais ela logo
se tornaria dependente. O casamento entrou em crise já nos primeiros meses, por
conta de ciúmes excessivos, brigas violentas e traições de David, mas Carmen
Miranda não aceitava o desquite pois era uma católica convicta.
Engravidou em 1948, mas sofreu um aborto espontâneo depois de uma apresentação e não
conseguiu mais engravidar, o que agravou suas crises depressivas e o abuso com
bebidas e remédios sedativos.
Desde
o início de sua carreira americana, Carmen fez uso de barbitúricos para poder dar conta de uma agenda
extenuante. Adquiria as drogas com receitas médicas pois, na época, elas eram
receitadas pelos médicos sem muitas preocupações com efeitos colaterais. Nos
Estados Unidos, tornou-se dependente de vários outros remédios, tanto
estimulantes quanto calmantes. Por ser também viciada em cigarro e beber muito álcool,
o efeito das drogas foi potencializado. Por conta do uso cada vez mais
frequente, Carmen desenvolveu uma série de sintomas característicos do uso de
drogas, mas não percebia os efeitos devastadores, que foram erroneamente
diagnosticados como estafa (cansaço) por médicos americanos.
Em 3 de dezembro de 1954, Carmen retornou ao
Brasil após uma ausência de 14 anos viajando e fazendo shows pelo mundo, além
de estar morando nos EUA. Ela continuava casada e sofrendo com o marido, cada
vez mais alcoólatra e violento. Seu médico brasileiro constatou a dependência
química e tentou desintoxicá-la. Ficou quatro meses internada em tratamento
numa suíte do hotel Copacabana Palace. Carmen melhorou, embora não
tenha abandonado completamente remédios, álcool e cigarro. Os exames realizados
no Brasil não constataram alterações de frequência cardíaca.
Ligeiramente
recuperada, retornou para os Estados Unidos em 4 de abril de 1955. Imediatamente
começou com as apresentações. Fez uma turnê por Cuba e Las Vegas entre os meses de maio e agosto e
voltou a usar barbitúricos, além de fumar e beber mais do que já fumava e
bebia.
No
início de agosto, Carmen gravou uma participação especial no programa
televisivo do comediante Jimmy Durante.
Durante um número de dança, sofreu um ligeiro desmaio, desequilibrou-se e foi
amparada por Durante. Recuperou-se e terminou o número. Na mesma noite, recebeu
amigos em sua residência em Beverly Hills,
à Bedford Drive, 616. Por volta das duas da manhã, após beber e cantar algumas
canções para os amigos presentes, Carmen subiu para seu quarto para dormir. Acendeu
um cigarro, vestiu um robe, retirou a maquiagem e caminhou em direção à cama
com um pequeno espelho à mão. Um colapso cardíaco fulminante a derrubou morta
sobre o chão no dia 5 de agosto.
Seu corpo foi encontrado pela mãe no dia seguinte, às 10h30 da manhã. Tinha 46
anos.
Aurora Miranda,
sua irmã, recebeu na mesma madrugada um telefonema do marido de Carmen Miranda
avisando sobre o falecimento. Aurora Miranda se desesperou por completo e
passou então a notícia para as emissoras de rádio e jornais. Heron Domingues,
da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, foi o primeiro a noticiar
a morte de Carmen Miranda em edição extraordinária do Repórter Esso.
Em 12 de agosto de 1955, seu corpo embalsamado desembarcou de um avião no Rio de
Janeiro. Sessenta mil pessoas compareceram ao seu velório realizado no saguão
da Câmara Municipal da então capital federal. O cortejo fúnebre até o Cemitério São João Batista foi acompanhado por cerca de meio
milhão de pessoas que cantavam esporadicamente, em surdina, "Taí", um
de seus maiores sucessos.
No
ano seguinte, o prefeito do Rio de Janeiro Francisco Negrão de Lima assinou um decreto criando o Museu Carmen Miranda, o qual somente foi
inaugurado em 1976 no Aterro do Flamengo.
Hoje,
uma herma em sua homenagem se localiza no Largo
da Carioca, Rio de Janeiro.
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